7 de agosto de 2013

 

Prédio da 2ª Auditoria Militar é cedido ao Núcleo de Preservação da Memória Política, da OAB paulista. E na Bahia?


 Um dos símbolos da repressão durante a ditadura militar (1964-1985), a antiga sede da 2ª Auditoria Militar em São Paulo foi “libertado” segunda-feira (05/08). Agora, ele abriga o Núcleo de Preservação da Memória Política da OAB/SP. Ali foram julgados militantes revolucionários que combateram a ditadura militar, como a presidenta Dilma Rousseff. “Estamos soterrando mais um entulho totalitário”, declarou Anivaldo Padilha, líder da Igreja metodista e integrante da Comissão Nacional da Verdade, ele próprio ex-preso político torturado nos porões militares.

Imediatamente me ocorreu a lembrança da Auditoria Militar da Bahia, a 6 ª CJM. Não daria sentir o mesmo prazer. Aqui em Salvador, ironicamente, o prédio histórico da Justiça Militar, local em que enfrentamos a farsa do julgamento de juízes que participaram das torturas aos presos políticos, embora continue pertencendo ao Exército Brasileiro, está cedido para atividades assistenciais da APAE.

O companheiro e ex-preso político, José Carlos Zanetti, integrante do Comitê Baiano pela Verdade, que já fez parte do conselho da APAE, ao freqüentar o prédio não deixou de “sentir aquele calafrio” das lembranças amargas. Afinal, os militares fascistas da ditadura torturavam os presos políticos e depois sentavam-se no tribunal para “julgar” os torturados. Mas, também tem a convicção de “que estamos virando a página daqueles tempos obscuros”.

Mas a ideia é recorrente. A memória dos advogados dos presos políticos, que se arriscavam a defender os “subversivos” precisa ser preservada. Dos principais advogados na ditadura aqui em Salvador, muitos já faleceram: Ronilda Noblat, Jaime Rodrigues Guimarães, José Borba Pedreira Lapa, Pedro Milton de Brito, Raul Chaves, Josaphat Marinho. Ainda estão conosco Augusto de Paula, Marcelo Duarte e meu advogado Inácio Gomes, na Auditoria Militar (6ª CJM). Não dá para esquecer.

Anivaldo Pereira Padilha enviou a José Carlos Zanetti uma mensagem:

Caro Zanetti,
Ontem foi realmente um dia muito importante. Tivemos três eventos interligados (sessão da Comissão da Verdade da OAB-SP, evento na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, e o climax com a ocupação do edifício da auditoria militar. Foi emocionante para a maioria de nós. Para os ex-presos, foi um retorno importante. A última vez que a maioria de nós esteve naquele edifício foi para sermos condenados por um tribunal de exceção. Ontem, libertamos o local. Mais um pequeno, mas importante, tijolinho na construção da democracia em nosso país.

Foi muito emocionante também ouvir os depoimentos sobre as experiências dos advogados que nos defenderam naquele período. Foram corajosos e destemidos. Sabemos que defender "terroristas e subversivos" naquele período era quase tão perigoso quanto ser um deles. Por isso, acho que o Memorial da Luta pela Justiça, em homenagem ao papel dos advogados no qual será transformado aquele edifício é mais do que justo.

Seria bom se conseguíssemos algo semellhante em todos os estados.

Um grande abraço,
Anivaldo Padilha
Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço.

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