6 de julho de 2013
Pesquisa IPEA revela falta de médicos no Brasil. Mas acho que falta Ética também
A pesquisa Radar do IPEA revela que de todas as 48 carreiras
incluídas no topo do ranking, a Medicina é aquela onde há maior escassez de
mão-de-obra. A movimentação de parte dos médicos brasileiros contra a
contratação de médicos estrangeiros, para atendimento às populações do interior
profundo do País, não encontra fundamento na pesquisa. Não há desemprego de
médicos. Os salários são altos. Faltam médicos. Logo, posso concluir que, do
ponto de vista da Ética, os médicos deveriam apoiar a contratação de médicos
estrangeiros para cobrir a carência e atender a população. Não é o que
acontece. Prevalecem o corporativismo irracional, o interesse eleitoreiro de
sindicalistas e a ignorância dos médicos formados em escolas de ensino
deficiente.
A Medicina é a carreira de nível superior com maior
desempenho trabalhista, considerando os fatores salário, jornada de trabalho,
nível de ocupação e cobertura previdenciária. Na média brasileira, os médicos
ganham R$ 6.940,12 e trabalham 42,03 horas por semana. A taxa de ocupação é de
91,81% e a de proteção trabalhista é de 90,72%. Estes índices fazem parte da
publicação “Perspectivas profissionais – nível técnico e superior”, da revista
Radar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
A Medina está à frente em um ranking de 48 formações de
nível superior, como Odontologia, Engenharia Civil, Engenharia Mecânica e
Metalurgia etc. Na parte de baixo do ranking, com pior desempenho trabalhista, estão
Religião, Filosofia, Educação Física e Turismo. A conclusão é óbvia: as
carreiras no topo do ranking têm indicadores que refletem escassez de
profissionais. Se a jornada é alta, é um sinal claro de que faltam
trabalhadores, o que prejudica o bem-estar dos profissionais. Se todos os
indicadores são altos, faltam profissionais. Esse é um “bom problema”, pois o
contrário desemprego.
Os médicos corporativistas contrapõem a falta de um plano de
carreira à contratação de médicos estrangeiros. É um sofisma. Mesmo com plano
de carreira, os médicos de classe média, acostumados à vida urbana das
capitais, continuariam a recusar trabalho nas pequenas cidades. Também afirmam que prefeituras atraem com
altos salários e depois deixam de pagar, gerando causas judiciais. Pois o plano
do Ministério da Saúde é exatamente para neutralizar isso, já que os salários
seriam pagos pelo Governo Federal. Sindicalistas desinformados chegam a argumentar que não falta mão de obra e sim condições de trabalho. É falso. Tanto faltam mão-de-obra quanto condições de trabalho. Tem argumento estúpido como comparar a contratação de médico estrangeiro a uma republiqueta. Ora, a Inglaterra importa 40% de seus médicos. Que republiqueta?
Os médicos e estudantes de Medicina, massa de manobra de sindicalistas, deveriam ouvir a opinião do Doutor Leandro Barreto, professor de Medicina da UFBA e presidente da Associação Baiana de Medicina de Família e Comunidade: “Sou a favor, enquanto provisório. Precisamos de mais médicos e se esperarmos por novos médicos demoraremos 20 anos para chegar ao nível de países como o Reino Unido”. Em outras palavras, a longo prazo estaremos todos mortos, diriam as famílias que residem nos 100 municípios baianos sem médicos.