25 de maio de 2013
Meu pai sobreviveu à ditadura...
meu
pai sobreviveu à ditadura militar, à tortura, à prisão. meu pai fez parte da
história de resistência do nosso país - essa narrativa tão complicada para nós,
filhos de militantes e tão intensa e dolorosa para eles, protagonistas da dor.
meu pai é jornalista, escritor e autor do livro Lamarca, o Capitão de
Guerrilha. ele é herói da nação, como tantos outros bravos resistentes. para
além, ele é o meu herói, meu pai-herói. e já conquistou o primeiro lugar entre
os heróis de joão pedro, meu filho - virou avô-herói. por exercer sua profissão
cotidianamente, por ser incansável, justo, honesto, corajoso, questionador e
atuante, Oldack
Miranda, meu pai, é hoje, em maio de 2013 (pasmem!) vítima de processo
movido pelo pastor Átila Brandão - que tenta intimidá-lo, como nos velhos
tempos. é importante registrar a minha indignação de filha, já tão antiga, mas
hoje renovada pelo pastor (ou bispo, sei lá, da Igreja Batista) apenas por
multiplicar, em seu movimentado blog www.bahiadefato.blogspot.com.br,
informações acerca do texto-reportagem escrito por Emiliano
José, em que Átila Brandão é revelado, através de documentos e fontes, é
claro, como torturador de Renato Afonso, meu ex-professor de história, outro
sobrevivente.
fico tomada por um sentimento conflitante, ao mesmo tempo ruim,
de injustiça, de irritação com o meu país, mas tão cheia de orgulho de ser
filha de pai-herói, ainda capaz de movimentar a imprensa, a sociedade e de
irritar essa gente poderosa - com a verdade, com os fatos. mas hoje, como um
velho hábito adquirido, fiz um exercício diferente e tentei me colocar no lugar
de quem tem um pai-vilão. e aí eu me consolei. e ganhei forças. e pensei: pior
do que a angústia de assistir, mais uma vez, o meu herói ser injustiçado, deve
ser a vergonha dos filhos do pastor Átila Brandão. e tive pena deles. que
história terão eles para contar? quero escrever mais sobre tudo isso e sobre as
minhas memórias pessoais, em outro momento, em outro espaço. por ora, esse post
é apenas um gesto de solidariedade pessoal e um desejo de compartilhar com
minha rede de amigos, o meu sentimento de filha. mas sim, filha de pai-herói,
de pai-corajoso, de pai-valente. abaixo, um documentário sobre filhos de
guerrilheiros, com dores maiores do que a minha. os pais deles foram mortos por
pais-vilões de outros filhos envergonhados.
http://www.facebook.com/oldack.miranda.1#!/thaisbmiranda?fref=ts