17 de outubro de 2012

 

Professores, escravidão e nazismo no Brasil

Estou convencido de que é preciso falar cada vez mais da escravidão e seus efeitos no Brasil. Principalmente quando o candidato a prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), ao longo de seus mandatos parlamentares explicitou sua ideologia racista, contra as cotas raciais, que fazem parte de uma política pública compensatória, em busca da igualdade para os afro-descendentes.

Não dá para confundir luta salarial dos professores com o poder municipal numa cidade de maioria negra. Pelo pouco que vi nos programas eleitorais de TV, a questão negra assume um peso extraordinário. Não sem razão, a remontagem do espetáculo ZUMBI (1965), de Augusto Boal, é todo integrado por atores negros. Presto minha homenagem ao professor e historiador Sidney Aguilar Filho que, em plena sala de aula, descobriu mais um escândalo na história do racismo no Brasil.

É surpreendente. O professor Sidney Aguilar, em plena sala de aula do ensino médio (no Rio de Janeiro) descobriu, por acaso, que nos anos entre 1930 e 1940 existiu no Brasil uma experiência eugenista, de orientação nazista, usando crianças negras retiradas do Educandário Romão Duarte, do Rio, e levadas à força para a Fazenda Cruzeiro do Sul, em Campinas de Monte Alegre, São Paulo. Em 1933, 50 crianças negras, entre 9 e 11 anos, foram encarceradas na fazenda, submetidas a trabalhos forçados, vigiadas por capatazes armados, chicotes nas mãos, palmatórias e cães, com castigos físicos, cárcere e fome.

O professor e historiador transformou o achado em sua tese de doutorado “Educação, autoritarismo e violência contra infância desamparada no Brasil (1930/1945). Li a reportagem de Martha San Juan França para o jornal Valor. O professor dava aula sobre escravidão negra no Brasil, numa classe do ensino médio, e uma aluna comentou que na fazenda dos pais havia tijolos de casarões demolidos , com a marca da suástica nazista. O professor foi lá, pesquisou e descobriu que o empresário nazista Sérgio Rocha Miranda, da Ação Integralista Brasileira, do Plínio Salgado, patrocinou a experiência eugenista contra meninos negros, com autorização da Santa Madre Igreja e do Juizado de Menores do Rio de Janeiro.

Quando o candidato ACM Neto (DEM) se manifestava contra as cotas raciais – agora ele desmente na TV – ele expunha toda sua ignorância sobre a história do escravismo no Brasil e seus efeitos ao longo dos séculos. Derrotado o nazismo, a “experiência” foi suspensa e esquecida, mas os meninos negros, assim como os escravos após a abolição, foram abandonados à própria sorte. Pelo menos um sobrevivente, aos 90 anos, foi localizado pelo historiador. Ele era o 23. É que ao chegar à fazenda nazista as crianças perdiam a identidade e passavam a ser apenas números.

ACM Neto (DEM) não é só herdeiro da fortuna do avô ACM, títere da ditadura militar de 1964. Ele é herdeiro das idéias dos 20 deputados constituintes de 1934 que defendiam abertamente práticas eugenistas educacionais, migratórias e sanitárias.

Como fingir que nada aconteceu? Como defender uma absurda democracia racial no Brasil? Como se manifestar contras as cotas raciais como políticas compensatórias para a população negra?

Para ser prefeito, ACM Neto (DEM) precisa voltar aos bancos escolares. E os professores que confundem luta salarial com a administração de Salvador, cidade de maioria negra, precisam fazer breve reflexão. Como diz o candidato a prefeito Pelegrino (PT), não é certo explorar demagogicamente a greve salarial dos professores na eleição de Salvador.

É meu pedido aos mestres, com carinho.

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