11 de fevereiro de 2011

 

Revista Terra Magazine começa a dar nome aos bois na crise do jornal A Tarde

Claudio Leal, na Terra Magazine

O editor-chefe do secular jornal baiano "A Tarde", o poeta e jornalista Florisvaldo Mattos, pediu desligamento do cargo, nesta quinta-feira (10), em meio à crise provocada pela demissão do repórter Aguirre Peixoto. Reportagens sobre crimes ambientais de uma obra do governo da Bahia em parceria com as empresas Patrimonial Saraíba e Construtora NM teriam motivado a queda de Peixoto.

Segundo a redação, o jornal atendeu a pressões do mercado imobiliário, acusado de fazer obras predatórias na primeira capital do País. O diretor-executivo de "A Tarde", Sylvio Simões, desmentiu a versão em entrevista a Terra Magazine e atribuiu o episódio a conflitos de "poder interno".

Os jornalistas entraram em "estado de greve" nesta quinta (10) e a crise ganhou repercussão em sites especializados na imprensa brasileira. O pedido de demissão de Mattos ocorre depois de Sylvio Simões ter dito, em reunião com repórteres e editores, que faltava autoridade e que trocaria todo o comando da redação em cinco ou seis meses.

O diretor acrescentou que o jornal só teve comando quando Ricardo Noblat era o editor-chefe, entre dezembro 2002 e outubro de 2003. O diálogo foi tenso e os sócios do jornal se recusaram a readmitir o repórter.

Filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), Sylvio amplia seu poder na direção do mais importante jornal baiano e um dos maiores do Nordeste. Sua mãe, Regina Simões, filha do fundador Ernesto Simões Filho, tem 50% das ações. A empresa sofre uma baixa de circulação e há anos enfrenta conflitos editoriais. Segundo o IVC (Instituto Verificador de Circulação), "A Tarde" já foi ultrapassada em tiragem pelo "Correio", da família do ex-senador Antonio Carlos Magalhães.

"Informo aos prezados colegas que, em encontro cordial com os membros da Direção Executiva, apresentei a minha demissão do cargo de editor-chefe e o meu desligamento dos quadros da Empresa A TARDE, de forma inteiramente livre e espontânea", escreveu Florivaldo Mattos à redação. Ele saiu sob os aplausos dos colegas. Em assembleia, os jornalistas de "A Tarde" pediram à direção que definisse uma linha editorial, para evitar a repetição do caso de Aguirre.

Sylvio Simões desmentiu que o jornal esteja negociando a venda de ações com os empreiteiros Francisco Bastos e Carlos Suarez. "Meu amigo, eu vou lhe dizer assim: se por acaso tiver uma ação à venda, do grupo A Tarde, eu e meu sócio compramos (risos) Compramos na mesma hora. Eu mesmo tô doido pra comprar. Se você conseguir aí alguns sócios pra eles venderem, eu compro!", reagiu. Nos bastidores, há uma disputa com o primo e sócio, Ranulfo Bocayuva, que apoia o movimento grevista.

Em conversa com Terra Magazine, o ex-editor-chefe Florisvaldo Mattos preferiu não comentar o pedido de demissão, "em respeito ao jornalismo". Ele ressalta que trabalhou por 21 anos em "A Tarde" e atribui sua saída a episódios acumulados, não apenas a atual crise.

O repórter Aguirre Peixoto responde a quatro interpelações judiciais dos sócios da empreiteira Patrimonial Saraíba: Carlos Suarez, Francisco Bastos, André Duarte Teixeira e Humberto Riella Sobrinho, que participam da obra da Tecnovia, em Salvador. O MPF (Ministério Público Federal), baseado em investigação da Polícia Federal, constatou que o projeto tocado pelo governo baiano "devastou vegetação em área de preservação permanente (APP) e espécies típicas da Mata Atlântica, o que é enquadrado como crime pela lei 9.605 (que trata de infrações ambientais)", como relatou Peixoto em uma de suas reportagens.

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