25 de outubro de 2010

 

Até tu, Samuel?

Com muito atraso, li um comentário de Samuel Celestino, no site Bahia Negócios, intitulado “Carta contra aborto para ganhar voto”.

Ele recrimina a candidata Dilma Rousseff “que tinha uma posição sobre o aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo e depois mudou (a do aborto está gravada)”.

Além de aceitar e louvar o jogo eleitoreiro da campanha de Serra – que vem usando abertamente a religião e a grave questão do aborto como tática eleitoral -, em conflito lógico insanável, o comentarista afirma que o objetivo da candidata Dilma Rousseff seria, como de fato é, segurar os votos evangélicos e católicos. Ora, o de Serra também.

Samuel se aventura em afirmar que lhe parecia uma tentativa inviável, essa de segurar os votos dos evangélicos e católicos.

A julgar pelas pesquisas, a realidade derrotou o achismo de Celestino. A reação de Dilma diante do tema aborto – um grave problema que afeta a vida de 3,5 milhões de mulheres brasileiras, por ano – se contrapôs à ação perniciosa, anti-ética do candidato Serra, que, ele sim atrás dos votos católicos (conservadores) e evangélicos (pentecostais) escolheu esse caminho reacionário.

Tais temas sequer são apropriados numa disputa presidencial. É o atraso, alimentado pelos comentaristas da velha mídia. Deus deveria passar longe dessa disputa. E a questão do aborto não pode ser decidida pela posição pessoal de candidatos, a não ser que fossem candidatos a ditadores, o que já seria outro conflito lógico insanável.

Diante de tanta coisa séria, ficam aí jornalistas escavando contradições da candidata que teria “duas caras”, que teria “gravado” – santo Deus, que crime horrível - depoimento sobre a legalização do aborto da parte de Dilma. Diz Celestino que “não fica bem” para quem “honra” o que diz e pensa.

Eu penso o contrário. Mudar o pensamento é normal. Mudar as posições políticas é normal. O que não é normal é mudar os fatos históricos, falsificar a História, como Serra vem fazendo no trajeto dessa campanha. Quando ministro da Saúde, Serra legalizou o aborto em casos específicos, como sabemos. Quando exilado no Chile, aceitou o aborto da sua mulher, Mônica Allende Serra, grávida de quatro meses, como solução na vida privada.

Discordo de Samuel Celestino, quando ele afirma que a candidata Dilma “ficou muito mal” na foto do aborto. Mudar é essencial na vida e na política. E depois a sociedade decide, não a simples vontade do Rei.

Samuel Celestino termina afirmando que “enquanto a candidata petista se contorce entre suas verdades e mentiras, Serra fica à distância”. Fica à distância sorrindo e dizendo para si: “eu tenho a mídia, posso dizer o que quiser”.

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