10 de setembro de 2009

 

Ex-militante da VPR conta porque está organizando homenagens a Lamarca em Brotas de Macaúbas

“Companheiros e Companheiras,

Quando estive em Brotas de Macaúbas, em outubro passado (2008), logo após a vitória do PT, ouvi de muita gente que finalmente estava acabando a Ditadura lá. Realmente o terror e o medo provocado pela repressão em 1971 sobre a população permanecia latente. Os coronéis políticos locais se utilizavam do medo da população para continuar sua dominação.

O Cabo Antônio Soldado, que era o policial da cidade em 1971, elegeu a mulher dele vereadora por dois mandatos repetindo pela cidade uma única frase: “Se não elegerem a minha mulher vou trazer o comando de volta”. Deu resultado – ela foi vereadora duas vezes. Até hoje muita gente tem medo de falar sobre os acontecimentos de 1971 porque ainda estão traumatizados. Há pessoas que ainda hoje, quando vêem um helicóptero se desesperam, passam mal.

No mês passado a Agente Comunitária visitou uma jovem senhora que está grávida pela primeira vez, para garantir o atendimento pré-natal e a Bolsa Família. E a mulher, que trabalha na roça, se escondeu da Agente Comunitária e mandou recado pelo marido que foi ameaçada pelos Coronéis, que derrotados no ano passado procuram as pessoas menos esclarecidas e dizem que os dirigentes do PT vão ficar só mais 3 anos e que nas próximas eleições eles voltam e quem tiver colaborado com “esses caras, vão comer o pão que o diabo amassou”. Ela não aceitou a assistência, com medo.

Como companheiro de VPR e irmão de coração de Zequinha Barreto me senti na obrigação de ajudar a destruir esse trauma coletivo tão profundo vivido por aquelas comunidades. Conversei então com minha companheira Maria Sena e começamos a levantar a impressionante história.

Temos já mais de 30 horas de depoimentos gravados e esperamos lançar o filme em setembro de 2010. Acreditamos que aquela gente, vendo na tela algumas das pessoas mais dignas e respeitadas da cidade falando como participaram e se relacionaram com o movimento dirigido por Lamarca, Zequinha Barreto e Santa Bárbara, exorcizarão o pavor que sentiram e que isso possa ajudar, junto com outras medidas humanas solidárias e de justiça, desfazer a imagem que ficou daqueles meses da invasão do Fleury e do Exército.

Uma outra coisa é que este é o primeiro ano de governo democrático em Brotas de Macaúbas. Desde 2001 a Igreja realiza uma Celebração aos Mártires, no final de semana mais próximo ao dia 17 de setembro, realizando uma missa campal no local onde Lamarca e Zequinha foram mortos.

Este ano, a celebração terá um caráter mais abrangente, e político. Temos certeza que quanto maior for a celebração, maior será o impacto para a superação do trauma vivido. Por isso assumimos a responsabilidade de produzir o Evento, e contamos com a presença dos companheiros que continuam batalhando pelo direito à memória e à verdade a respeito dos nossos mortos, desaparecidos e injustiçados.

Estamos convidando vários companheiros que estão em cargos e mandatos federais e estaduais , Comitês Estaduais do Grupo Tortura Nunca Mais e demais militantes ligados ao assunto, bem como a todos os companheiros de militância para se fazerem presentes”.

Roque Aparecido e Maria Sena

LEIAM MATÉRIA PUBLICADA ABAIXO

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