20 de fevereiro de 2009

 

A crise mundial cria maior espaço para o desenvolvimento local

Reli um ensaio de 2008 do doutor em Ciências Econômicas, Ladislau Dowbor, intitulado "Desenvolvimento Local: crise e oportunidade". É fascinante porque ele parte do reconhecimento de que todos - incluindo o Brasil - os países estão sofrendo as consequências da crise financeira provocada pelos Estados Unidos, mas, ao contrário das cassandras da mídia, vislumbra uma oportunidade para o desenvolvimento local. Isso deveria fazer parte da agenda dos governos federal, estaduais e dos prefeitos e prefeitas eleitas nas últimas eleições. É o momento de incentivar a produção local.

"(...) a crise que ameaça os processos produtivos em muitos municípios também se dá no contexto dos quase seis anos de governo Lula, em que houve amplo esforço de ampliação do mercado interno. As contas são simples: o aumento de empregos foi da ordem de 10 milhões, o poder de compra do salário mínimo subiu mais de 30%, o que favorece dezenas de milhões de pessoas com baixos salários, e cerca de 16 milhões de pequenas aposentadorias reajustadas pelo mínimo.

Quase 95% dos reajustes salariais têm sido acima da inflação, representando ganhos reais. A isso se somem os 45 milhões de pessoas no programa Bolsa Família e, se coonsiderarem os recentes dados da Pnad sobre a migração de milhões de pessoas das classes D e E para a classe C, teremos perfeita compressão do problema. Em outros termos, houve uma interiorização do processo de desenvolvimento, o que reduziu fortemente a vulnerabilidade externa. (...)".

Eis as bases para o consumo e produção nos municípios.

Segundo o professor Ladislau Dowbor, "a forma mais evidente de escapar das turbulências externas é aproveitar a tendência de expansão do mercado interno. O Brasil, com a imensa concentração de renda herdada, apesar dos avanços recentes, tem um grande horizonte de consumo reprimido, e se trata de bens cuja tecnologia dominamos, e temos capacidade instalada (e ociosidade) suficiente para responder rapidamente a essa demanda. E com o volume do crédito no país em torno de 39% do PIB, temos muito espaço para expansão, tanto por volume como por redução dos juros médios ao tomador, hoje escandalosos".

Trata-se portanto de "aproveitar aproveitar a onda das políticas governamentais de um lado - inclusive com o potencial que representa o recente programa Territórios da Cidadania - e a ameaça da crise por outro para buscar uma dinâmica de desenvolvimento cujo eixo é bastante evidente: expandir as políticas distributivas, aprofundar o mercado interno, permitindo que as pessoas da base da pirâmide tenham acesso a bens que lhes são necessários, e dinamizando ao mesmo tempo a conjuntura para ajudar as empresas. As soluções do global nem sempre estão lá em cima".

Nesse sentido, chega a ser um crime limitar e não expandir a obrigatoriedade de fornecimento da merenda escolar, por exemplo, com base na produção da agricultura familiar local.

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