21 de setembro de 2007

 

Sobre a popularidade de Lula

Sempre tem algum obtuso ao lado da gente que torce o nariz para Lula e nosso governo. Em sua obtusidade não entende porque o presidente-operário surfa há tanto tempo na onda da popularidade. Há muitos fatores explicativos. Lula é um dos mais carismáticos líderes da história política do Brasil, sabe falar para os mais pobres, a maioria. Mas, apenas a identificação pessoal não basta para explicar a popularidade que sobrevive aos permanentes ataques da mídia.

Wagner Iglecias, professor-doutor em Sociologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) explica com clareza o fenômeno, em artigo publicado na Gazeta Mercantil (19/09/07 – página A-11), com o título “A popularidade de Lula e a economia”.

Segundo Wagner Iglecias, a racionalidade das classes C, D e E vai além do que muitos supõem. “Faz tempo que o brasileiro vota e apóia ou deixa de apoiar governos pelo mesmo motivo. E os números da economia são amplamente favoráveis não apenas ao governo, mas também ao pessoal que o jornalista Elio Gaspari chama de “andar de baixo”.

Ele cita os números da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD). A taxa de desemprego de 2006 (8,4%) foi a menor desde 1997. Aumentou o percentual de empregados com carteira, o rendimento médio do trabalhador aumentou (7,2%), o maior desde o Plano Real. O salário mínimo cresceu em termos reais (13,3%) com grande impacto no poder aquisitivo dos mais pobres.

O sociólogo da USP acrescenta ainda a ampliação do crédito aos setores populares e o crescimento do universo de beneficiados pelos programas de transferência de renda. Os obtusos “formadores de opinião” se equivocam nas críticas ao programa Bolsa Família. É fato que a política assistencial (eu diria social) tem melhorado as condições de vida e aumentado o poder de compra dos brasileiros de baixa renda, independente da qualificação imbecil de “esmola”. Eles – os obtusos – ignoram que tais programas “TÊM PROMOVIDO PEQUENAS REVOLUÇÕES EM CENTENAS OU MILHARES DE MUNICÍPIOS”.

O sociólogo aconselha um breve passeio aos shoppings populares das grandes cidades ou aos mercadinhos do interior. Percebe-se que algo diferente está ocorrendo no consumo do povão. É pela fila do crediário – afirma ele – e pelo caixa do supermercado que passa boa parte do apoio ao governo Lula.

Como são estúpidos os obtusos formadores de opinião da grande mídia.

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A Campanha "CANSEI"

(Por Guilherme Arruda Aranha*)

A Campanha "Cansei", promovida pela OAB/SP e por setor do alto empresariado nacional, auto-intitulada 'movimento cívico pelo direito dos brasileiros', convoca os cansados em geral a fazer um minuto de silêncio às 13h00 de hoje 'pelo bem do Brasil'.

Não contem comigo: não vou fazer um minuto de silêncio, nem vou bater panelas, pois cansei mesmo foi das campanhas "da paz", campanhas "contra o governo" e sobretudo das campanhas do tipo "cansei". Cansei também dos berros da classe média, oprimida entre os ricos e o crime organizado, se achando o umbigo do universo.

Cansei da classe média incapaz de se ver refletida no espelho que é a política, sem a dignidade de assumir que a corrupção que tanto critica nos "outros" é, em sua origem, a mesmíssima daquele que desembolsa cinqüenta reais para não ser multado, que atravessa o sinal vermelho porque não tem guarda olhando e que faz ultrapassagem pelo acostamento na volta do feriadão.

Cansei da classe média que só enxerga a corrupção dos políticos mas é cega e complacente com empresários corruptores e sonegadores de impostos. Cansei da classe média que não se dá conta que a moral só existe na primeira pessoa e que o resto é moralismo (para quem negocia com o dinheiro público, seja político ou empresário, desejo apenas a aplicação da lei). Cansei da classe média pedindo o retorno de governo autoritário, de direita ou de esquerda, pouco me importa, para "moralizar essa bagunça". Era só o que faltava.

Cansei da classe média disparando e.mails ideológicos e confundindo isso com consciência política. Cansei da classe média com acesso a ensino de qualidade mas que só lê, quando lê, o mesmo jornal, a mesma revista de sempre e nunca leu Maquiavel, Hobbes, Locke, Rousseau, Marx, Proudhon ou Weber. Não precisava sequer ler na fonte, bastava pegar um livro introdutório para entender algumas das divergências entre tantos autores geniais, atentos às riquezas e misérias da formação daquilo que chamamos hoje de Estado moderno, situando-se um pouco melhor no mundo em que vivemos.

Cansei de uma classe média que odeia a política pelo erro primário e cristão de confundir seres humanos com anjos, o que é uma receita para a decepção, pois é óbvio que homens não são anjos e, portanto, precisamos de política, este mal necessário. Cansei do mesmo bom-mocismo que divide o mundo de forma maniqueísta: o "Bem" está com a classe média, o "Mal" está com os políticos, aqueles estranhos seres corruptos que vieram de outro planeta e precisam ser exterminados.

Cansei também de achar que o Brasil é uma porcaria maior do que outros países (não é mais nem menos porcaria que EUA, Cuba, França, Canadá, Japão, Austrália, Espanha, Itália ou Suíça). O Brasil tem suas contradições (como qualquer país) e uma delas é ser uma força econômica com péssima distribuição de renda. Aqui a noção de poder legal (Weber) ainda é subversiva e o capitalismo é selvagem. E uma hora os pobres virão mesmo cobrar o que é deles.

Agora agüenta, classe média: a incompetência também é nossa e não só dos políticos. Agora agüenta, elite blindada e herdeira de nossa tradição autoritária: a má distribuição de renda é um problema coletivo; a
indústria dos carros blindados e dos condomínios murados, uma solução individual (e individualista). Mas, essa equação não fecha: não há soluções individuais para problemas coletivos.

Em suma: como advogado paulista não me sinto "representado" aqui pela OAB/SP (não foi com o meu aval que esta entidade uniu-se à "indignação" de um empresário como João Dória Junior, a quem apraz promover desfile de cachorros de madame em Campos de Jordão). Como cidadão, não vejo nada de "cívico" nesse movimento, orquestrado sabe-se lá com qual verdadeira finalidade. E se uma dessas finalidades for um movimento "fora Lula", sou contra, assim como era contra o "fora FHC", não por simpatia política, mas por convicção democrática.

Antes que me perguntem qual é, afinal, a solução para todos os problemas de nosso país, respondo o óbvio: não sei. Sei apenas que não existe mágica. Fiquemos, pois, com a política e façamos dela a nossa responsabilidade (e não apenas a responsabilidade dos "outros", os políticos), conscientes de que no meio do caminho há pedras. Sempre haverá pedras no meio do caminho.

Hoje, portanto, não bato panelas nem faço um minuto de silêncio. Há exatos 20 anos, aliás, morria Drummond. Às 13h00 de hoje, em homenagem ao poeta, chutarei uma pedra na rua. Ao anoitecer, porém, saberei que "é a hora dos corvos, bicando em mim meu passado, meu futuro, meu degredo: desta hora, sim, tenho medo".
__________________
* Guilherme Arruda Aranha, 35, advogado, mestre em Filosofia do Direito e do Estado pela PUC/SP e professor de Filosofia do Direito (PUC/SP e UNIFIEO), além de pertencer à classe média.
 
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