31 de agosto de 2007

 

Dos filhos deste solo

Um leitor desse blog BAHIA DE FATO me enviou um e-mail indagando se eu não estava sendo muito rigoroso com a divulgação do documento Direito à Verdade e à Memória.

Sem desmerecer o mérito da importante obra de Paulo Vanuchi, cuja divulgação sonegou informações sobre todo o esforço anterior de desvendamento dos mortos e desaparecidos políticos, transcrevo abaixo nota de Élio Gáspari na Folha de S. Paulo.

Reitero minhas observações. O documento Direito à Memória e à Verdade é o terceiro capítulo dessa história. O primeiro capítulo foi escrito por d. Evaristo Arns e o reverendo Jaime Wright com o dossiê Brasil Nunca Mais. O segundo capítulo foi escrito pelo ex-ministro dos Direitos Humanos e o jornalista Carlos Tibúrcio com o livro-documento Dos Filhos deste Solo. O terceiro capítulo é o livro organizado por Paulo Vanuchi. Na verdade, a luta para desvendar essa chaga começou no governo FHC.

LEIA REGISTRO DE ÉLIO GÁSPARI:

Jornal Folha de S. Paulo – 08/08/1999 pag 3

As morte dos filhos deste solo
Elio Gaspari

Como parte das comemorações dos 20 anos da anistia, vale a lembrança do próximo lançamento de um bom livro.

É "Dos filhos deste solo", organizado pelo deputado Nilmário Miranda (PT-MG) e pelo jornalista Carlos Tibúrcio. Conta a história dos trabalhos da comissão especial criada pelo Congresso para determinar a responsabilidade do Estado no assassinato de dissidentes políticos durante a ditadura militar.

A comissão, ajudada por legistas e pelas famílias dos mortos, conseguiu documentar absurdos.

Fez isso estudando documentos oficiais. Por exemplo: segundo a requisição de necropsia feita pela polícia, Helber José Gomes Goulart, militante do marighelismo morreu às 16 h do dia 16 de julho de 1973 e seu corpo chegou ao Instituto Médico-Legal às 8h desse mesmo dia. Isso mesmo. Chegou ao necrotério oito horas antes de morrer. Pior: as fotos guardadas no IML foram tiradas quando ele ainda estava vivo.

Noutro caso, os documentos da polícia informaram que Frederico Eduardo Mayr, do Molipo, morreu no dia 23 de fevereiro de 1972, num tiroteio de rua. Uma ficha do DOPS paulista, datada do dia seguinte, mostra que ele fora fotografado e identificado em alguma repartição do governo, na véspera. Mayr fora preso com um ferimento superficial na barriga. Mataram-no porque, no jargão do aparelho repressivo, "era um cubano" (tinha vindo de Cuba, onde recebera treinamento militar).

"Dos filhos deste solo" cataloga cada um dos 136 casos de desaparecidos políticos reconhecidos antes da criação da comissão especial e os outros 148 assassinatos que elucidou.

É mais um documento do que uma peça de leitura. Seu imenso valor está no registro e na preservação do metódico resgate que a comissão de Nilmário Miranda produziu.

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?