13 de julho de 2007

 

Lula disse que Nordeste não pode exportar apenas pobre

Assim o jornal O Globo noticiou Lula em Pernambuco:

Letícia Lins - O Globo - 13/7/2007

Presidente critica burocracia e diz que é mais complicado e sofrido tocar obras do que galinha botar ovo

Em visita a Pernambuco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o
Nordeste não pode exportar apenas pobres e continuar sendo a "faixa do mapa brasileiro reprodutor de pobres", ao anunciar os 20 municípios e as obras beneficiadas com recursos do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) no estado.

Lula também fez críticas severas à burocracia, que dificulta a liberação de verbas e o andamento de obras do PAC.

- Eu tenho as costas calejadas de tanto apanhar. No Nordeste, quando não se morre de fome até os 5 anos, pode ter certeza de que se vai viver bastante. E essa é uma lição de vida. Sei que tem gente que reclama. Que é até contra aprovação de zona de processamento de exportação no Senado, porque a ZPE vai acabar com a indústria de não sei onde. Mas o que queremos é tornar o Brasil mais equânime - disse.

- Não queremos tirar nada de ninguém, mas nos recolocarmos no mapa deste país. Não queremos ser apenas exportadores de pobres para os estados mais ricos. Não queremos ser só pedreiros, queremos ser engenheiros, médicos. Daí porque temos que investir em educação no Nordeste, na formação de doutores - disse.

Obras de saneamento e urbanização

Em meio aos entraves que têm retardado obras como a transposição do Rio São Francisco e das usinas do Rio Madeira, Lula criticou a burocracia brasileira e fez um apelo a governadores e prefeitos para que, juntamente com a sociedade, assumam o compromisso de lutar contra o problema, que provoca morosidade na administração pública. Lula fez o comentário ao anunciar, em Recife, a liberação de R$1,415 bilhão do PAC para Pernambuco, a maior parte para serviços de saneamento básico e a urbanização de favelas próximas a córregos e rios.

- Entre vir aqui, dizer que tem o dinheiro, o governo dizer que tem o projeto, a gente assinar, até terminar o processo de licitação, com o corpo de leis, com o Tribunal de Contas, com muita coisa, leva de quatro a cinco meses para começar a obra. É mais difícil do que a galinha botar o ovo. É complicado. Lá ela sofre. Ela sofre, mas bota o ovo. Aqui a gente sofre e o ovo demora mais tempo do que deveria - reclamou, lembrando que, se tudo correr bem, até fevereiro as obras estarão iniciadas.

Protestos e aplausos em Recife

Lula falou para mais de 1.300 pessoas, no maior auditório do Centro de Convenções de Pernambuco, onde esteve acompanhado de quatro ministros. Ele chegou em meio a protestos isolados. Vários movimentos colocaram faixas no local, como "Qual a diferença entre Lula e FHC? Todos enganaram para chegar ao poder", "Presidente, não tente tirar dos servidores o que sempre defendeu, o direito de greve" e "Comprar na Caixa, hoje um sonho, amanhã um pesadelo". No entanto, o presidente foi aplaudido mais de seis vezes em seu discurso.

Ao defender a necessidade da urgência das obras, Lula disse que sabe o que é acordar com "a merda boiando na ponta do nariz". O presidente, que ao se mudar para São Paulo chegou a morar em cortiço sem abastecimento e em casas facilmente inundáveis a cada temporada de chuva, disse entender a pressa da população.

- Saí de uma casa e fui morar em uma outra nova, com cheiro de tinta, em julho de 1963. Mas, em janeiro de 1964, acordei à meia-noite com rato disputando espaço com barata, a merda boiando na ponta do nariz, a água batendo no colchão. Vivi isso na década de 60, e hoje, em 2007, ainda tem gente enfrentando esse problema porque não foi feito o que deveria ter sido feito pelos governantes - disse.

Lula a Severino: "Eu sei o que é a vingança da elite"

No final, Lula, que já tinha pedido paciência à sociedade devido à burocracia estatal, apelou para um outro tipo de paciência, dessa vez contra acusações que atingem as autoridades, dirigindo-se ao governador Eduardo Campos (que já respondeu por suposto envolvimento no escândalo dos precatórios) e ao ex -presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), que estava na platéia - Severino renunciou ao cargo, no escândalo do mensalinho, para escapar da cassação.

- Eu sei o que é a vingança da elite brasileira. Você já passou por isso, Eduardo. Estou vendo daqui o Severino, que também já passou por isso. Eu sei o que é muitas vezes o ódio de classe demonstrado desnecessariamente. Mas estou com 60 anos e sou um homem sem ódio. Ninguém vai me deixar nervoso. Só tenho um objetivo: provar que o país pode dar certo, que o povo pode viver melhor - disse.

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