23 de junho de 2007

 

ESTÁ NA CARTA CAPITAL: PESQUISA REVELA QUE MÍDIA SE IRRITOU PORQUE LULA DEU CERTO.

Está explicado porque o povo não acredita na mídia brasileira.

A revista Carta Capital que está nas bancas (24 de junho) publica reportagem sobre uma pesquisa do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro) que mostra o comportamento da Folha, do Estadão, do Globo e do JB nas eleições presidenciais de 2006.

O cientista político do Iuperj e coordenador da pesquisa, Marcus Figueiredo, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim (SITE CONVERSA AFIADA) que, em 2006, a maior parte da cobertura da mídia foi contra Lula porque ele “acabou dando certo como Presidente no campo econômico e social”.

Marcus Figueiredo disse que a cobertura da mídia em relação ao presidente Lula foi mais negativa em 2006 do que em 2002. Segundo ele, em 2002 a cobertura da mídia foi negativa até que Lula divulgou a “Carta ao Povo Brasileiro”, onde se comprometeu, por exemplo, a manter compromissos internacionais e a política econômica austera.

Para o professor Figueiredo, o anti-lulismo da grande mídia se deve também ao fato de, como o Presidente Lula deu certo, haver uma alternância de poder, que interrompa o ciclo de governos oligáquicos, que a grande mídia representa.

A pesquisa do professor Figueiredo mostra que o Globo e o Estadão são, numa mídia contra o Presidente Lula, os dois órgãos de imprensa mais anti-Lula. A pesquisa mostra que os editoriais e os colunistas são ainda mais anti-Lula do que o noticiário. O resultado desse sistemático anti-lulismo, segundo o professor Figueiredo, resultará na perda de credibilidade da grande mídia.

LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE MARCUS FIGUEIREDO:

PAULO HENRIQUE AMORIM – Eu vou conversar agora com professor Marcus Figueiredo, ele é cientista político do Iuperj e também é coordenador do Doxa, que é o centro de pesquisas sobre imprensa, opinião pública e meios de comunicação. Professor Figueiredo, o senhor vai bem?

Marcus Figueiredo – Tudo bem, Paulo?

PAULO HENRIQUE AMORIM – Vou bem, obrigado. A revista Carta Capital, que chega hoje às bancas aqui em São Paulo, publica uma pesquisa, uma reportagem com o resultado de uma pesquisa que vocês fizeram no Iuperj sobre o comportamento da imprensa na eleição presidencial de 2006. O senhor poderia resumir os principais resultados dessa pesquisa?

Marcus Figueiredo – Claro, com prazer. Esta é uma linha de pesquisa que estamos fazendo já há alguns anos. Neste ano, sobre as eleições de 2006, ficou absolutamente patente que a grande imprensa, os grandes jornais do Brasil tiveram comportamento muito enviesado contra a candidatura do presidente Lula. As razões pra isso podem ser de várias ordens.

Desde a questão do ponto de vista moral, do ponto de vista das articulações políticas, por conta de os escândalos todos que ocorreram nos últimos dois, três anos. Entretanto, essas são questões que fazem parte da política, que são resolvidas politicamente, foram resolvidas institucionalmente, algumas os principais assessores do presidente foram afastados, alguns foram punidos ou absolvidos pelo próprio Congresso de forma que, do ponto de vista institucional o presidente fez o que podia ser feito.

Entretanto, permaneceu como o tom da grande mídia esta oposição em relação à candidatura do presidente. Agora, chamo a atenção para um detalhe importantíssimo: o excesso e o tom mais alto de críticas era em direção às atividades políticas do presidente e da própria campanha.

Entretanto, quando a gente continua vendo os jornais – todos eles – e vamos pras páginas de economia, só aparecem notícias que são favoráveis ao governo e, obviamente, ao presidente Lula pela condução da economia e também na parte social.

Portanto, o que ficou absolutamente claro é que nós assistimos a uma cobertura que tinham dois lados, eram duas faces da mesma moeda, ou seja, numa face a mídia posicionou-se enviesada contra a candidatura. Na outra face, ela estava inteiramente favorável ao desempenho na área econômica e social do presidente.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Como é que o senhor explica essa esquizofrenia?

Marcus Figueiredo – Eu tenho uma leve impressão, que é extremamente difícil de demonstrar, que houve um total desencantamento com a figura, com o presidente na medida em que ele, pela sua história, acabou dando certo como um presidente.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Entendi. A mídia se irritou porque o Lula deu certo.

Marcus Figueiredo – E ela dando certo significa a possibilidade de uma alternância de poder substituindo as velhas lideranças, as velhas oligarquias, a velha elite que sempre comandou o país e sem conseqüências drásticas. Apenas, evidentemente, uma mudança de rumo na política.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Esse comportamento em 2006 difere em que do comportamento da grande mídia em 2002?

Marcus Figueiredo – A diferença, eu diria, é brutal. Veja bem, em 2002 o comportamento da mídia entre os meses de fevereiro até julho, o tom da crítica à candidatura do Lula era negativa. O saldo era sempre negativo.

A mídia colocou uma pauta e a pauta era o que aconteceria com a política econômica, com os contratos internacionais etc. em relação a uma possível vitória do Lula que se apresentava. A resposta do Lula e da campanha dele foi a edição da Carta ao Povo Brasileiro, comprometendo-se a manter os contratos e sustentar a política econômica, que é hegemônica.

Pois bem, a partir deste momento, isso tem data marcada, foi em meados de julho de 2002, todos os grandes jornais inverteram sua posição e o tom da crítica e a cobertura passou a ter saldo positivo. Ou seja, na medida em que o Lula comprometeu-se em não “botar fogo na casa”, mas manter os compromissos internacionais, manter a política econômica austera etc., a mídia resolveu dizer: “Então, tudo bem. Vamos deixar que ele ganhe a eleição”. Ele ganhou a eleição. Ele manteve a sua palavra, manteve a política econômica e o resultado tem sido nos últimos três anos altamente positivo pra economia brasileira, exceto, todo mundo sabe, problemas na área de pequenos negócios agrícolas e calçados por conta de várias coisas.

Paulo Henrique Amorim – Professor, o senhor analisou também editoriais e colunas? Porque no Brasil o chamado colunismo é um ingrediente importante dos jornais, né?

Marcus Figueiredo – Sim, claro.

PAULO HENRIQUE AMORIM – O senhor chegou a analisar isso?

Marcus Figueiredo – Sim, claro. Essa parte é importantíssima porque é aonde o tom geral aparece. Veja bem, todos os jornais dividem em duas partes a sua cobertura, editorias e colunas, e depois as matérias, as reportagens ....

PAULO HENRIQUE AMORIM – É verdade...

Marcus Figueiredo – As reportagens, de uma maneira geral, elas fazem uma cobertura nos padrões profissionais, internacionais, sem nenhum excesso, digamos assim, de viés com adjetivos, etc, etc. Porém, a parte chamada de opinião, editoriais e de colunas e de artigos, ela é altamente negativa para a candidatura do Presidente em 2006.

A única exceção tem que ser feita e tem que ser dita, foi a Folha de S. Paulo, porque ela tem uma política editorial, quando ela coloca um determinado tema, ela convida articulistas que são a favor e outros que são contra o determinado tema.

Portanto, nesse jornal há um certo equilíbrio. Veja bem, a nossa grande preocupação do ponto de vista analítico e do ponto de vista de avaliação do desempenho, não é nem a busca da “chapa-branca” e nem a busca da oposição sistemática, predatória etc. A nossa busca é o parâmetro do equilíbrio, do pluralismo. Não se trata de negar o direito à crítica.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Entendi.

Marcus Figueiredo – Mas abrir o espaço para a controvérsia. Porque nós trabalhamos com o seguinte conceito: a mídia em geral e a imprensa, inclusive, é um espaço público e, como espaço público, deve estar aberto para a pluralidade das opiniões.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Está certo. Agora, professor, o que o senhor chama de grande mídia? Que órgãos de imprensa o senhor pesquisou?

Marcus Figueiredo – Olha, os jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e o Jornal do Brasil. Compõem o carro-chefe, digamos assim. Por que esses jornais? Porque eles têm grande repercussão na classe política, na classe de formadores de opinião, de maneira geral e na elite.

É claro que é um trabalho, cuja interferência ou efeito no grande público ou no povão é relativamente pequeno... é pequeno porque não é um público leitor assíduo, sistemático e de leitura completa dos jornais. O povão, ele se nutre dos jornais na banca de jornal, a parte que fica pendurada na banca de jornal.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Agora, professor, uma última questão: a eleição do Presidente Lula em 2002 e mais ainda em 2006, nas circunstâncias dramáticas que levaram a eleição para o segundo turno, essa eleição significou uma derrota acachapante da mídia. O que o senhor acha que foi a conseqüência disso?

Marcus Figueiredo – A conseqüência eu acho que... não vi ainda a conseqüência, porque na medida que a mídia não conseguiu, parcialmente eu vou dizer... não conseguiu parcialmente alterar o processo eleitoral, isso deve servir de lição a ela qual é a sintonia dela em relação ao povo brasileiro, em relação à sociedade brasileira, em relação ao povão, que é em última instância aquele que decide.

Quando eu digo que foi uma derrota, no geral, uma derrota, mas parcialmente ela teve um efeito importante é que a vitória no primeiro turno que estava, por todas as projeções, evidenciada não aconteceu. E não aconteceu por causa da sistemática crítica ao comportamento do Presidente durante o primeiro turno.

Justiça seja feita, foram críticas fundadas, não foram críticas inventadas, não foram críticas estapafúrdias. O Presidente reconheceu os erros estratégicos que cometeu no primeiro turno. Mas de qualquer forma, o trabalho da mídia foi como resultado, um dos resultados positivo do ponto de vista da democracia, foi ajudar a forçar a existência do segundo turno quando então Lula se apresentou à população, ao eleitorado de forma correta e não soberba como ele estava no primeiro turno.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Uma outra questão: se analisarmos a mídia agora nos primeiros seis meses do segundo mandato, meio modestamente aqui no âmbito do meu site aqui no iG eu fiz essa pesquisa, a posição da mídia não mudou nada. Ela continua sistematicamente contra o Presidente Lula.

Eu pergunto, à medida que o Presidente Lula tem sucesso na sua política econômica, na sua política social, essa aflição da mídia como representantes dessas oligarquias não tende a se acentuar e não se pode chegar a uma situação política de impasse?

Marcus Figueiredo – Não, eu não acredito nessa possibilidade, porque a experiência da vitória em 2002 com a vitória em 2006 e com as instituições estando funcionando de forma normal, sem nenhum sobressalto, acho extremamente difícil que essa situação caminhe para um impasse de maior monta porque a fonte dessas coisas todas continuam sendo as investigações da Polícia Federal que acabam pegando alguém que está na ante-sala, ou na sala, ou na vizinhança do próprio Presidente.

PAULO HENRIQUE AMORIM - Na vizinhança do presidente?

Marcus Figueiredo – Na vizinhança do próprio presidente. Mas mais uma vez o presidente tem dado, o Lula tem dado demonstração de reconhecimento do que está acontecendo e sem usar o tradicional poder de influencia que ele tem pra orientar esse tipo de coisa.

Exemplo claro o que está ocorrendo com o irmão dele Vavá. O presidente, em momento algum, intercedeu a favor porque nós sabemos que no passado a elite usava sua própria influencia em situações desse tipo de modo que a permanência desta oposição sistemática, de crítica sistemática à atuação política do presidente eu acho que vai acabar minando a credibilidade dos jornais e o público vai se afastando.

Eu tenho exemplos de cancelamentos de assinaturas de jornais e revistas exatamente porque perdeu-se o espaço aonde o debate ocorre. Ao invés do debate o que está havendo é um discurso uníssono contra o governo do presidente.

PAULO HENRIQUE AMORIM – Tá certo. Professor Marcus Figueiredo, foi um grande prazer captar suas avaliações sobre essa reportagem da Carta Capital.

Marcus Figueiredo – Muito obrigado, Paulo Henrique, fique à vontade. Quando precisar, estamos aqui.

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