24 de abril de 2007

 

Nas próximas eleições a esquerda vai se dividir. É cada um por si.

Em 2008, nas eleições municipais, o PCdoB vai marchar sozinho. O objetivo é se fortalecer unilateralmente, nas bases. Também em 2010, na sucessão presidencial, é zero a chance de uma aliança com o PT. As duas eleições são consideradas eleições abertas. Assim, o PCdoB pretende apresentar candidatos a prefeito em 2008 e candidato a presidente em 2010. A atual coalizão em torno do Governo Lula não vai funcionar nas próximas eleições. Na sucessão presidencial o PSB tem Ciro Gomes e Eduardo Campos, o PCdoB tem Aldo Rebelo, o PT tem Jaques Wagner, Mercadante, Marta Suplicy e Tarso Genro. Nenhum partido de esquerda vai abrir mão de ter candidato próprio. Esta é a visão do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) passada em entrevista ao site Congresso em Foco. Na visão deste blog, é um prato cheio para o retorno da direita ao poder, principalmente na Bahia.

LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

“Em 2010, estamos abertos para tudo”

Inácio Arruda diz que, sem Lula, PCdoB tende a lançar candidatura própria ou se aliar ao PSB, de Ciro Gomes e Eduardo Campos

Eduardo Militão - Site Congresso em Foco

Único partido além do PT a apoiar as cinco candidaturas presidenciais de Lula, o PCdoB se prepara para enfrentar os petistas, pela primeira vez, no plano nacional, na eleição de 2010. As opções hoje do partido vão desde o lançamento de uma candidatura própria, com o deputado Aldo Rebelo (SP), por exemplo, até a formação de uma aliança com outro parceiro histórico, o PSB, em torno do deputado Ciro Gomes (CE) ou do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

O cenário é descrito pelo senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), primeiro integrante de um partido comunista a se eleger para o Senado desde Luís Carlos Prestes, o lendário Cavaleiro da Esperança, em 1945.

Nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, Inácio aponta como praticamente nulas as chances de o PCdoB voltar a apoiar uma candidatura do PT no primeiro turno das próximas eleições presidenciais.

“Claro que, em 2010, muda tudo. Por quê? Em 2010, é uma eleição totalmente distinta, porque você não tem uma liderança máxima, quase sobrenatural, como Lula. Os partidos podem testar cada qual a sua liderança”, diz. “Em 2010, estamos abertos para tudo”, avisa.

Mas o rompimento não chegaria a ser um divórcio, ressalta o senador. “No segundo turno, todo mundo se une em torno da candidatura mais viável”, afirma. Para Inácio Arruda, não há chance de o PT abrir mão de candidatura própria à sucessão de Lula, o que dificultaria o propósito do presidente Lula de ver sua base de coalizão com apenas um nome na corrida ao Planalto em 2010.

“O PT vai ter candidato para presidente. Aqui está a questão central. Acho que o PSB tem nomes fortes. O PCdoB tem uma liderança nacional, o Aldo. Se for uma eleição para testar, para ampliar espaço, para propagar as legendas, então, o PCdoB também lança o seu candidato”, avisa.

Na avaliação dele, sem a possibilidade de Lula disputar um terceiro mandato, os petistas têm apenas bons candidatos, mas nenhuma força que agregue toda a base. “O PT não vai ter mais uma liderança. Vai ter nomes”, observa.

Problema à vista

Ex-deputado, servidor público e eletrotécnico, o senador vê Lula mais forte neste início de segundo mandato do que em 2003 e não poupa elogios ao atual governo. Mas reconhece que a heterogeneidade da coalizão pode começar a trazer problemas para o presidente a partir do próximo ano, com as eleições municipais.

“Porque, em 2008, na eleição municipal, os partidos da base do governo têm que buscar se fortalecer”, diz. “A eleição municipal é a oportunidade mais especial que os partidos têm de apresentar as suas lideranças locais. O PCdoB tem a obrigação de se apresentar à disputa”, emenda.

Ao comentar sobre a intenção de seu partido de lançar mais candidatos ao Executivo a partir do ano que vem, Inácio Arruda critica a falta de reciprocidade do PT no apoio a candidaturas do PCdoB. “Não nos tratam da forma mais correta, como gostaríamos. É preciso que apóiem o PCdoB para termos um governo de estado. Esse é que é o problema”, critica, lembrando que o PCdoB já deixou de lançar nomes, em diversos estado, para apoiar o PT.

Em 2004, Inácio viveu uma situação inusitada quando, ainda deputado federal, disputou a prefeitura de Fortaleza. Tinha o apoio do PT nacional contra a candidatura petista da então deputada estadual Luiziane Lins, que viria a se eleger naquele ano. O senador diz que só enfrentará as eleições municipais de 2008 se a prefeita, sua atual aliada, não quiser tentar a reeleição.

O apoio do PT e do PSB – de Ciro Gomes e de seu irmão, o governador Cid Gomes – foi decisivo para a eleição de Inácio Arruda no ano passado. A vantagem sobre o seu principal adversário, o então deputado Moroni Torgan (DEM-CE), foi apertada: 52,25% contra 45,9% dos votos válidos.

Confira os principais trechos da entrevista.

CONGRESSO EM FOCO – Que cenário o senhor projeta para a base aliada neste início de segundo mandato do presidente Lula?

INÁCIO ARRUDA - O governo tem uma base muito forte, porque o governo Lula é muito forte – não pela base que tem, mas pelo governo. Ele puxou uma base muito forte, porque veio muito forte da eleição.


CF - Mas o governo também não veio forte em 2002? No primeiro mandato, ele não conseguiu uma base desse porte.

ARRUDA - Mas ele não tinha as condições. Hoje, ele é forte porque as condições econômicas do país e os programas que ele sustenta possibilitam ter uma base muito forte. O governo Lula é muito forte porque tem condições econômicas melhores, e isso o faz ter uma base forte. Em 2002, havia um disparate. Tudo estava desequilibrado: o susto da vitória do Lula, a inflação, o dólar, a balança comercial. Teve de superar esse obstáculo, mesmo mantendo a macroeconomia intacta, conseguiu botar a casa em ordem, estabeleceu uma política de programas sociais voltados à população de baixíssima renda e sem renda. Isso atraiu parte significativa da população brasileira, que nunca conseguiu fruir programa nenhum que pudesse alcançar diretamente, sem intermediários. Isso atrai uma base política fortíssima de apoio popular e, evidentemente, vai atrair uma base partidária.


CF - O governo Lula está mais forte hoje no Congresso? Ela sobrevive às eleições do ano que vem?

ARRUDA - O governo ficou muito forte e entra com muito mais força neste mandato do que em 2003.
Agora, ela [a base aliada] é absolutamente heterogênea. Isso não significa que você tenha arranjos eleitorais muito previsíveis. As eleições de 2008 e de 2010 são eleições abertas. Você pode ter uma eleição em que o governo possa ter grande influência. Considero que o governo vai estar bem do ponto de vista econômico, então, vai estar forte junto aos eleitores. Mas a sua base é tão heterogênea que a eleição não tem um esquema fácil: “Vai ser assim”. Não é bem certo isso.


CF - Como o senhor vê essa coalizão heterogênea? Dos conservadores PP e PR, passando pelo PMDB até chegar ao PSB e o PCdoB, aliados históricos do PT. Essa coalizão não é heterogênea demais, chegando a ferir posições ideológicas dos partidos?

ARRUDA - Se o governo consolida um centro de esquerda e consegue manter uma base de esquerda mais sólida – PT, PCdoB, PSB, principalmente esses três partidos que vêm discutindo principalmente com o Lula desde 1989 –, se esse núcleo se mantém, o grau de abertura de base não é problemático. Você diz: “Esse é o nosso grupo”. Então, você pode abrir o máximo que puder. O problema é se esse núcleo se dissolve. Se ele se dilui, você está numa posição mais difícil do ponto de vista político.


CF - Mas o senhor não acha que esse núcleo não é, na verdade, PT e PMDB?

ARRUDA - Você tem o PDT também, que voltou a integrar esse núcleo. Isso foi muito importante. Isso reforça esse lado, que vai ser o núcleo mais histórico de permanente discussão de um caminho novo para o Brasil. E você tem essa tendência, digamos assim, do ponto de vista político, mais conservadora. Poderíamos ter uma aliança mais do PT com o PMDB. Mas acho que o próprio PT não teria interesse numa situação como essa. Isso não seria vantajoso para os petistas, pensando do ponto de vista político estritamente. Agora, se você pensar apenas do ponto de vista eleitoral, você pode imaginar: um partido muito forte como o PMDB e um muito forte como PT, então é mais vantajoso eleitoralmente caminharem os dois juntos. Nem sempre isso vale na política. Há muitos exemplos passados. Se valesse, quem deveria presidir o país seria o PMDB, e não o PT.


CF - Mas vários petistas, como o deputado Cândido Vaccarezza (SP), dizem que a coalizão tem que ser reproduzida nas eleições municipais de 2008. O PCdoB aceitaria participar disso?

ARRUDA - O PCdoB esteve na coalizão de fato com o PT em 2002 e 2006. O PMDB não esteve em nenhuma das duas. Pode ser que esteja em 2010.


CF - Digamos que o PMDB diga que vá se aliar ao PT em 2010. O PCdoB entraria junto?

ARRUDA - É possível. Considero que vai ficar forte demais.


CF - Como assim?

ARRUDA - Com tanta força que... Quando junta força demais, começa a sobrar.


CF - Vocês já deixaram, em várias ocasiões, candidaturas para dar o lugar ao PT e ao PSB. O PCdoB se frustra ao ver o PT se aliando a ex-adversários, como o PP, o PR e o PTB?

ARRUDA - Queremos que o governo Lula dê certo. Disputamos a eleição na Câmara, com o Aldo [Rebelo (SP)]. Fizemos um bloco que é da base do governo, reunindo PCdoB, PSB e PDT e outros partidos como PMN, o PRB, do vice-presidente da República [José Alencar]. Conseguimos manter esse bloco junto. Esse bloco tem lideranças fortes e importantes, que vêm fazendo política permanentemente. É mais ou menos assim: aqui tem o PT, tem esse bloco e aqui tem o PMDB. E o PMDB tem dito que pode disputar uma eleição. O PT também tem dito que pode disputar. Eu espero que estejam unidos. Se a gente puder unir todo esse conjunto, ótimo. Não trabalhamos com a hipótese de frustração ou não. Nós precisamos fazer o nosso país tocar esse projeto que o Lula colocou na ordem do dia, o Programa de Aceleração do Crescimento [PAC]. Queremos a aceleração do crescimento. Esse conjunto de forças políticas leva o país a acelerar o crescimento? Então, tem o nosso apoio.


CF - Mas esse apoio continua irrestrito até 2010?

ARRUDA - Claro que, em 2010, muda tudo. Por quê? Em 2010, é uma eleição totalmente distinta, porque você não tem uma liderança máxima, quase sobrenatural, como Lula. Os partidos podem testar cada qual a sua liderança. É isso que os eleitores querem examinar. Numa situação especialíssima no Brasil, que veio da ditadura militar, nosso foco estava todo no movimento social, e a liderança que se formou foi a de Lula. Em 1989, o PCdoB tinha tempo sobrando para lançar candidato a presidente da República. Nós convencemos o PSB a não lançar candidato. Tiramos o José Paulo Bisol, que tinha acabado de sair do PSDB para o PSB, para ser o vice de Lula. E agregamos o tempo de TV, que era muito largo. O tempo do PCdoB e do PSB era praticamente o mesmo do PT.


CF - O senhor acha que agora o PT, o bloco e o PMDB podem testar novas lideranças?

ARRUDA - Claro que podem. Podem testar na campanha de primeiro turno e, no segundo turno, você pode examinar melhor. No segundo turno, todo mundo se une em torno da candidatura mais viável. Em 2010, estamos abertos para tudo.


CF - Assim como em 2008?

ARRUDA - Em 2008, é aberto total.


CF - Mais até que em 2010?

ARRUDA - Mais até. Porque, em 2008, na eleição municipal, os partidos da base do governo têm que buscar se fortalecer. Nós concentramos nossa tática eleitoral, principalmente o PCdoB, na eleição proporcional. Nós fomos dizimados na ditadura: sofremos no início no meio e no fim. Numa situação daquelas, nos concentramos em eleger deputados federais e estaduais. Era ter espaço ali naquele parlamento local. Fazíamos muita atuação de bastidores. Com as eleições de 1989, marcou-se a trajetória pela eleição majoritária, os Executivos. O eleitor examina a questão eleitoral por quem vai trabalhar as questões concretas, os problemas cotidianos. O povo é muito materialista nesse sentido. Digamos assim, que, nesse ponto de vista, os comunistas também têm que ser materialistas: disputar a eleições do Executivo para governar. O povo quer saber disso: quem vai disputar para governar? É a eleição que mais chama a atenção, que tem programas. Vou discutir tais assuntos: casa, drenagem, esgoto, lixo, emprego, escola, universidade... A eleição municipal é a oportunidade mais especial que os partidos têm de apresentar as suas lideranças locais. O PCdoB tem a obrigação de se apresentar à disputa.


CF - O senhor vai disputar a prefeitura de Fortaleza de novo?

ARRUDA - Já disputei três eleições. Agora, somos aliados da prefeita de Fortaleza, [Luiziane Lins (PT)]. Se ela não quiser disputar a reeleição, então eu me candidato a prefeito. Do contrário, vou apoiá-la. É sempre uma disputa muito interessante numa capital. Você tem que lidar com essas questões. Governo é onde o povo identifica o poder, e o PCdoB tem que disputar eleições. Governar as cidades é o caminho mais interessante para o partido.


CF - Em que cidades o partido deve disputar?

ARRUDA - O PT vai concluir um mandato interessante em Recife [João Paulo é o prefeito]. Então, abriu-se um caminho para ter uma candidatura do PCdoB lá. Temos o vice-prefeito [Luciano Siqueira], uma pessoa muito querida. Porto Alegre é uma cidade interessante. Foi governada pela esquerda, pelo PT durante 16 anos. É um espaço aberto. No Rio de Janeiro, tem a Jandira [Feghali], uma liderança muito forte. Por que ela não se candidata? Tem todas as condições, pode formar uma boa aliança e é uma pessoa querida do povo. Esse menino que foi eleito agora, o [deputado] Flávio Dino (PCdoB-MA), é uma pessoa muito respeitada. É gente nova. A [deputada] Vanessa Graziotin [AM] já disputou muitas vezes. Mas às vezes é bom dar uma parada. São lideranças muito fortes. Se entram [na disputa], vão para o segundo turno. A [deputada] Perpétua [Almeida] lá no Acre é outra liderança muito forte. Por que temos de deixar de disputar na principal cidade operária do país, que é São Paulo? Lá, você tem um partido comunista operário que sempre fica fora da disputa. A vice do [senador petista] Aloízio Mercadante [candidato a governador de São Paulo nas últimas eleições] foi a Nádia Campeão, muito querida do povo. Em São Paulo temos ainda Aldo Rebelo [ex-presidente da Câmara], entre outros.


CF - O senhor é do Ceará. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) é um nome que pode unir a coalizão governista em 2010?

ARRUDA - Vejo que a esquerda pode ter aí uns três ou quatro nomes. O PT não vai ter mais uma liderança. Vai ter nomes.


CF - E o Ciro é um nome ou uma liderança?

ARRUDA - O Ciro é um nome e uma liderança. No PSB haverá dois nomes fortes. O Ciro, que já tem uma trajetória de candidato a presidente, disputou em 1998 e 2002. E tem o Eduardo Campos [governador de Pernambuco], que não está obrigado a ser candidato à reeleição. O Eduardo é um articulador político. O PSB convidou o governador de Minas, Aécio [Neves, PSDB], para o partido. Mas o PT tem nomes fortes, o governador da Bahia, [Jacques Wagner].


CF - O Ciro e o Eduardo Campos teriam luz própria?

ARRUDA - Eles têm a liderança política. O Jacques Wagner não é uma liderança, mas é do PT. Tem a força do PT. Com qualquer dos seus nomes, o PT é forte. Tem ainda Mercadante, Marta [Suplicy, ministra do Turismo] e Tarso Genro [ministro da Justiça].


CF - O senhor acredita que, com esses nomes fortes, o PT apoiaria a candidatura de Ciro Gomes ou Eduardo Campos?

ARRUDA - Acho muito difícil que o PT abra mão de uma candidatura. Às vezes tem um outro com a idéia de apoiar alguém do PMDB. Isso não é verdade. O PT vai ter candidato para presidente. Aqui está a questão central. Acho que o PSB tem nomes fortes. O PCdoB tem uma liderança nacional, o Aldo. Se for uma eleição para testar, para ampliar espaço, para propagar as legendas, então, o PCdoB também lança o seu candidato. Claro que, se for para testar, não precisa ser o Aldo, mas ele é uma liderança nacional. Se você tem uma liderança nacional, você pode fazer uma campanha bonita. E no segundo turno se junta todo mundo.


CF - Vocês iriam divididos? PT de um lado e o chamado bloquinho de outro?

ARRUDA - Essas questões todas estão abertas. Não tem nada resolvido e nem deve. O fato é que todos esses partidos têm lideranças. Uns têm a força de sua legenda e outros têm lideranças porque já percorreram o caminho e sabem das possibilidades que têm seus nomes. O cenário vai ser muito interessante em 2010, porque não vai ter mais algo sobrenatural, tão forte e pujante à sua frente que iniba outras iniciativas ou que agregue de tal sorte que impeça que haja quatro ou cinco alternativas possíveis. Para fazer o trabalho em 2010, o grau de habilidade e astúcia política vai ter que ser muitíssimo maior, para unir todo esse conjunto de forças.


CF - Cláusula de barreira é sempre um assunto em que partido grande é a favor e os pequenos são contra. O PT tratou o PCdoB com a devida fidelidade nesse assunto?

ARRUDA - Acho que não, porque o PT foi pequeno até pouco tempo. É um partido novo. E sabe mais do que ninguém que as circunstâncias levaram o PCdoB a fazer essa escolha de concentração política nas eleições legislativas. As circunstâncias nos obrigaram. Agora que nós saímos para uma disputa de Executivo.


CF - Vocês viram isso que é uma necessidade para a sobrevivência do partido...

ARRUDA - Claro. Só que, quando você sai para a disputa, você disputa no campo da esquerda, PT, PDT, PSB. Aí eles dizem: “O PCdoB está querendo disputar o campo nosso. Vamos ver se a gente impede”. Quer dizer, não nos tratam da forma mais correta, como gostaríamos. É preciso que apóiem o PCdoB para termos um governo de estado. Esse é que é o problema.


CF - O partido está bem aquinhoado na coalizão?

ARRUDA - Nós brigamos pouco por espaço, na verdade. Temos que aprender muito nesse terreno.


CF - O senhor acha que não está suficiente?

ARRUDA - Sempre há um problema de medição. A gente tinha que se comportar assim: o governo, como coalizão, mede quantidade [de bancada no Congresso], mas mede também política – quem são os aliados políticos e como eles vão trabalhar. Às vezes você tem um aliado político que não tem dez votos na hora em que se precisa de dez, mas tem uns três votos que são decisivos para conquistar os dez. Com três votos, você conseguiu os dez. É importante você ter os três, que vão fazer um trabalho tão significativo que você vai ter os dez. O PCdoB sempre trabalha assim, para conseguir mais onde o governo precisa. Mas se você medir só quantitativamente, a bancada do PCdoB tem 13 deputados federais e um senador. Se for nessa medição, o espaço fica sempre restrito. Mas se você olhar as possibilidades de contribuição para o governo que criadas por esses mandatos, pode dizer que precisamos de um espaço maior.


CF - O Orlando Silva está bem no Ministério do Esporte ou seria melhor colocar o Agnelo Queiroz lá?

ARRUDA - O melhor para nós é ter um Agnelo bem situado e o Orlando bem situado. O Orlando é um excelente ministro. O problema nosso é que o Agnelo é um quadro muito importante, o próprio Lula já disse: “Vocês deveriam transferir essa questão para mim”. Está transferida! Ele tem um carinho muito grande pelo Agnelo.


CF - O PPS está na oposição, o PDT...

Está no governo.


CF - O senador Cristóvam Buarque assinou o requerimento da CPI do Apagão Aéreo.

ARRUDA - Mas já tinha dado o número [mínimo de assinaturas].


CF - O Psol está na oposição. As esquerdas estão muito divididas. Isso é uma tendência?

ARRUDA – Aqui e na França. Não tem como unir tudo. Um projeto de saída para o Brasil encontrar o lugar dele não é fácil. Queremos que os juros caiam mais rápido. E os juros caem num conta-gotas miserável. Estão na contramão do PAC. O presidente fala “acelerar” e os juros falam “desacelerar”. Todos nós tínhamos nas mãos as bandeiras do “Fora FMI, fora isso, fora aquilo”. E agora ele deixou de monitorar a economia brasileira. Podemos até usar a cartilha do FMI, mas usamos por opção. Muitas forças políticas ficam meio desnorteadas: O que vamos fazer agora? Outras questões políticas, trabalhistas, previdenciárias, conquistas que levaram anos e anos. E, de repente, uma movimentação no mundo capitalista faz desmoronar isso. O vendaval Chinês a que assistimos não é fácil. Ao lado dela, um redemoinho chamado Índia. Essas reviravoltas mexem com as correntes políticas.


CF - Qual a bandeira para unir as esquerdas?

ARRUDA - O principal caminho de unidade seria examinar o modelo de crescimento econômico do Brasil. Qual o caminho que ajuda a crescer e a desenvolver a qualidade de vida do povo? Queria fazer uma discussão sobre como valorizar o mundo do trabalho. Se você valoriza o mundo do trabalho, puxa para mais perto essas correntes políticas da esquerda.


CF - Falando de identidade, um caso concreto. O senador Leomar Quintanilha (TO), que foi da Arena e do PFL, candidatou-se pelo PCdoB e, agora, se filiou ao PMDB. O PCdoB não está perdendo as referências?

ARRUDA - Foi uma boa passagem pelo PCdoB. Foi candidato pelo PCdoB, o que é muito difícil. Acho que foi muito bem no PCdoB. Depois, voltou ao PMDB e tem tido uma participação muito boa conosco no Senado. Sempre muito franco, muito aberto. Tem nos ajudado no Tocantins e na nossa atividade no Senado. Eu digo que o partido não perde [as referências], porque o PCdoB é um partido que é muito franco. Estamos muito tranqüilos. Temos que voltar ao provérbio chinês: nunca um peixe apodrece pelo rabo, só pela cabeça. Não vai ser um fato episódico que vai molestar a conduta da agremiação partidária.


CF - Como vai ser a CPI do Apagão Aéreo? Vai haver muito confronto como a dos Bingos?

ARRUDA - CPI sempre é contra o governo. Não tem jeito. O cara não quer nem discutir o apagão aéreo. Quer discutir a questão da Infraero, que cuida dos aeroportos, e não do tráfego aéreo. Quando começar a CPI, não vai ter jeito. Chega o cidadão, bota um requerimento lá, convoca o presidente da Infraero. Não tem como controlar. Sempre vai dar confronto.


CF - O senhor pretende participar da CPI?

ARRUDA - Se for instalada no Senado, eu gostaria de participar.

Comments:
Concordo com os companheiros. Essa divisão, com certeza só vai beneficiar os 'ratos golpistas' do PSDB/PFL...
Um abraço e a luta continua!
Guina http://tribunapetista.blogspot.com/
 
Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?