13 de agosto de 2006

 

Carta Capital e Vox Populi mostram a força do pobre nas eleições

A popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva voltou a crescer e, às vésperas do início do horário gratuito da propaganda eleitoral (os 45 dias que marcam a reta final da campanha), o presidente ampliou a chance de vencer a eleição no primeiro turno, graças, principalmente, ao enorme apoio que tem entre os eleitores mais pobres. A pesquisa completa está na edição impressa da revista Carta Capital.

Nesta terceira rodada da pesquisa CartaCapital/Vox Populi, Lula (PT) venceria a eleição com 45% das intenções de voto, contra 24% de Geraldo Alckmin (PSDB); 11% de Heloísa Helena (PSOL); 1% de Cristovam Buarque (PDT) e 1% de Rui Pimenta (PCO). Nenhum dos demais candidatos atinge 1%. Lula conta com 58% de apoio entre os eleitores de baixa escolaridade e 63% entre aqueles de baixa renda.

LULA CRESCEU 15 PONTOS

Em relação à pesquisa de julho, Lula cresceu 15 pontos porcentuais entre esses eleitores com até a 4ª série do ensino fundamental e 17 pontos porcentuais na faixa de renda familiar de apenas um salário mínimo.

São dois indicadores incontestáveis de que Lula se sustenta na base da pirâmide social. Uma estatística do eleitorado divulgada em julho pelo Tribunal Superior Eleitoral, tendo como referência o grau de instrução, mostra que (sem contar cerca de 8 milhões de analfabetos) há um contingente de quase 54 milhões de eleitores no Brasil com o primeiro grau completo e o primeiro grau incompleto. Os 58% de apoio a Lula, nessa faixa, traduzem aproximadamente 30 milhões de votos.

Não se trata de acentuar a disputa polarizada entre o candidato dos pobres contra o candidato dos ricos, que, certamente, inspirou o slogan do petista: “A força do povo”. A candidatura de Lula transita nas classes mais altas com mais desenvoltura do que a de Alckmin entre os mais pobres. Lula tem, por exemplo, 27% de intenção de voto entre os eleitores que ganham acima de dez salários mínimos, considerados “mais ricos”. E chegou, agora, a 25% de apoio entre os que têm ensino superior.

CENÁRIO DE CONFRONTO DE CLASSES

A disputa de 2006 (muito mais do que em 2002), com um candidato de origem operária em busca da reeleição, está inserida num cenário de confronto de classes. Embora quase nunca explicitado. A moldura do choque das candidaturas se dá, principalmente, porque o anti-lulismo cresceu entre a população mais rica, que, depois da crise do caixa 2 (quando o PT foi apanhado com a boca na botija), passou a empunhar a bandeira da ética.

O problema é que a fisionomia desse movimento está marcada pela presença de velhos conhecidos dos eleitores. Enfim, contaminada por figuras que enriqueceram na política à sombra do silêncio imposto pela truculência da ditadura militar. A votação do candidato tucano, por outro lado, ajuda a compor esse quadro.

Alckmin também tem votos entre os eleitores mais pobres. Poucos, no entanto. Na pesquisa de julho, ele obteve 9% das intenções de voto entre os eleitores com até a 4ª série do ensino fundamental. Em agosto, quase dobrou o apoio nesse segmento e chegou a 17%. O candidato tucano ampliou a vantagem sobre Lula nos eleitores de escolaridade elevada. Em julho, ele tinha 30% (Lula estava com 20%); em agosto Alckmin subiu para 38% (Lula cresceu para 25%).

ANTIGOS PRECONCEITOS VOLTAM

Esse bolsão de eleitores, onde se confina a população mais privilegiada (classe média e classe alta), passa pouco da casa dos 7 milhões. Forma o grupo dos que têm curso superior completo ou incompleto, segundo a estatística do TSE. Na população eleitoral com renda familiar acima de dez salários mínimos, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin está 9 pontos porcentuais à frente de Lula: 32% contra 23%. Essa situação acirrou antigos preconceitos sociais.

Segundo essas vozes, tocadas pelas palpitações do coração e não pela razão, o apoio a Lula nas camadas mais baixas seria decorrente da ignorância, falta de instrução e emoção. Em qualquer grupo de eleitores haverá quem seja levado pela emoção. A maioria, no entanto, sempre vota por interesses concretos. Trata-se do mesmo grupo (ampliado) de pessoas que em 1994 e em 1998 assegurou a vitória a Fernando Henrique Cardoso, graças aos efeitos provisórios do bem-sucedido Plano Real. Em 2002, Lula ganhou em razão dos danos colaterais do plano, como, por exemplo, o alto nível de desemprego.

RACIONAIS OU IGNORANTES?

É uma regra: no Brasil, ninguém ganha eleição presidencial sem o apoio eleitoral da maioria pobre que significa, no total, cerca de 60 milhões de votos. Há quem faça diferença. Quando votaram em Fernando Henrique, eram racionais; quando votam em Lula, são ignorantes. Só rindo. Por sinal, nesta reta final da campanha (a propaganda eleitoral gratuita começa no dia 15 de agosto) em que a esperança da oposição vem da antena da tevê, é oportuna a lembrança do Plano Real, que favoreceu uma das raras viradas eleitorais no Brasil.

Em 1994, o petista Lula puxava o apoio da maioria até o mês de julho. Durante o horário eleitoral gratuito, o tucano FHC valeu-se do sucesso do plano e potencializou seus efeitos. A força da candidatura estava no plano e não na telinha. Antes disso, em 1986, o então presidente José Sarney fez um truque que favoreceu eleitoralmente o PMDB. Lançou, em março, o Plano Cruzado e insistiu nele, embora seus efeitos tivessem se esgotado, para virar o jogo em muitos estados a partir dos programas eleitorais.

ECONOMIA SOPRA A FAVOR DE LULA

Em ambos os casos, os governantes foram os favorecidos. É possível que Lula se beneficie desta vez. Os números da economia sopram a favor dele, ainda que as previsões do setor produtivo a respeito do PIB de 2006 não sejam tão otimistas quanto as do governo. Ainda esta semana, quando quatro institutos de pesquisa apontaram a subida de Lula e a queda de Alckmin, a economia botou mais um trunfo na mão do presidente: o mais baixo índice do risco-Brasil. Desceu para pouco mais de 200 pontos. Um recorde histórico. Essa queda, para Lula, foi tão comemorada quanto a queda nos porcentuais de Alckmin.

A avaliação do desempenho do governo e do governante é considerada uma das mais importantes na definição do voto. Considera-se que a possibilidade de influência da campanha eleitoral para a oposição guarda uma relação estreita com a popularidade do governante.

PRESIDENTE ESTÁ BLINDADO

Se for verdade, o presidente estaria quase blindado, segundo os dados da pesquisa Vox Populi. A avaliação de Lula à frente do governo retornou quase aos patamares eufóricos dos primeiros meses de governo. Ele conta com uma avaliação positiva de 41%, com 37% de regular e 21% de negativo. Por outro lado, a avaliação do governo é de 54%, ante 34% de desaprovação. As duas situações em que houve mudanças exploradas com sucesso pelo horário eleitoral surgiram a partir de dois fatos relevantes: os planos Cruzado e Real. A mídia multiplicou os efeitos. A pesquisa Vox Populi mostra que a tevê tem força. Mas não a força absoluta.

A FORÇA DA TV

Segundo a pesquisa, 54% dos eleitores dizem que se informam sobre política “assistindo ao noticiário na tevê”. A telinha é, também, a segunda referência dos entrevistados: 28%. Em seguida, os eleitores fazem a cabeça, politicamente, dentro de casa, em conversa com familiares e amigos (tabela na edição impressa).

Exceto pelo porcentual de rejeição, em que Alckmin vence Lula, todas as outras variáveis favorecem a candidatura do petista. É claro que a situação não é imutável. Até agora, porém, para mudá-la só mesmo um fato imponderável. (Maurício Dias).

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